Home Notícias As vendas de Albacora e Albacora Leste são fruto do encolhimento estratégico da Petrobras

As vendas de Albacora e Albacora Leste são fruto do encolhimento estratégico da Petrobras

 

Texto de Rodrigo Leão[1]

O anúncio da venda das áreas de Albacora e Albacora Leste na Bacia de Campos é mais um passo dado pela Petrobras para concentrar sua atuação quase que exclusivamente na região do pré-sal. Apesar de ainda contribuir significativamente para a produção nacional (31% no segundo trimestre de 2020), a Petrobras tem colocado à venda inumeras áreas de produção da Bacia de Campos.
Todavia, até o momento, a companhia vinha focando na venda total de campos com a produção relativamente pequena, cujas possibilidades de retomada da curva de produção eram baixas, como Pargo, Carapeba e Vermelho. Dessa vez, os campos de Albacora e, principalmente, Albacora Leste estão entre os maiores produtores da Bacia de Campos.
No primeiro semestre de 2020, o campo de Albacora foi o décimo terceiro e de Albacora Leste o nono maior produtor de petróleo da Bacia de Campos, de acordo com os dados de produção por poços da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (ANP). A tabela 1 abaixo mostra a posição da produção das duas regiões.

Tabela 1 – Maiores campos produtores de petróleo da Bacia de Campos no primeiro semestre de 2020. Em barris por dia.

Fonte: ANP. Elaboração Ineep

A produção média dos dois campos, em julho de 2020, foi de 75,5 mil barris por dia, o equivalente a 8,5% de toda a produção da Bacia de Campos naquele mês. Somente os campos de Jubarte, Roncador, Tartaruga Verde e Marlim alcançaram uma extração de petróleo superior a esse montante.

A produção desses campos ocorrem em três plataformas (P-25, P-31 e P-50) que emprega, segundo informações do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense,520 trabalhadores próprios e 1040 terceirizados.A venda dessas áreas, em conjunto com os demais processos de desinvestimentos, tem obrigado a Petrobras a realizar programas de demissão voluntária para trabalhadores próprios e, mais grave, as empresas terceirizadas, que atuam nas áreas vendidas, têm realizado demissões de sua força de trabalho.

Como mostra o Gráfico 1, desde que iniciou o programa de venda de ativos e, ao mesmo tempo, reduziu seus investimentos de exploração e produção na Bacia de Campoa partir de 2016, houve um impacto significativo no mercado de trabalho da região. O estoque de emprego caiu quase um terço entre 2014 e 2018, saindo de 30 mil para 20 mil.

Gráfico 1 – Evolução anual do estoque de emprego formal  na indústria do petróleo e gás no Norte Fluminense, ERJ e no Brasil (2014-2018).

Fonte: Caged. Elaboração Ineep

Ainda que a produção dessas áreas seja declinante, estimativas do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) asseveram que Albacora e Albacora Leste trazem resultados positivos da Petrobras. Utilizando os dados de produção, preços e custos da ANP e da Petrobras, no primeiro trimestre de 2020, o estudo do Ineep mostra que esses dois campos geraram lucro para Petrobras.

Isso ocorreu mesmo com o cenário extremamente adverso, no qual o preço do barril do petróleo desabou desde fevereiro e a demanda também caiu de forma abrupta por conta da pandemia do coronavírus.

Tabela 2 – Resultado financeiro de Albacora e Albacora Leste no primeiro trimestre de 2020.

Fonte: Ineep

Como mostra a Tabela 2, no primeiro trimestre de 2020, Albacora e Albacora Leste tiveram, respectivamente, uma receita de US$ 34 milhões e US$ 131 milhões,. O lucro antes do resultado financeiro e dos impostos foi de, respectivamente, US$ 12,7 milhões e US$ 48,0 milhões. E, mesmo considerado as despesas financeira, os dois campos apresentaram lucro: Albacora de US$ 410 mil dolares e Albacora Leste de US$ 1,2 milhões.

Cabe ainda ressaltar que o campo de Albacora Leste iniciou sua produção em 1998 e, por isso, ainda teria um horizonte temporal para elevar a extração de petróleo, principalmente se a Petrobras adotasse medidas de maior recuperação dos reservatórios. Alguns campos do Mar do Norte, da empresa Equinor, que ainda produzem e fazem parte do portfolio da norueguesa, estão na ativa desde os anos 1980.

A venda dessa forma não pode ser vista como uma necessidade pela inviablidade economico-financeira, mas sim por uma simples decisão estratégia de encolhimento da Petrobras.

 

[1]Coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), pesquisador visitante do Núcleo de Estudos Conjunturais da UFBA e doutorando em Economia Política Internacional pela UFRJ.
 
 

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