Não deve caber apenas aos petroleiros a tarefa de salvar a Petrobrás do projeto lesa-pátria que está em andamento. A Petrobras é assunto para toda a nação brasileira, principalmente depois da descoberta do pré-sal.
O geólogo Guilherme Estrela, ex-diretor da Petrobras e responsável pela descoberta do pré-sal, tem alertado em diversos artigos e entrevistas, sobre as ameaças à empresa, sem que a população brasileira tenha conhecimento.
Baseado em afirmativas mentirosas foi iniciado um processo de dilapidação da Petrobrás sem precedentes. A corrupção ocorrida que está em processo de apuração pela Lava Jato, não chega perto do assalto que acontece hoje.
A primeira e principal grande mentira que há muito tempo vem sendo divulgada pela grande mídia é a de que a empresa está muito endividada. A dívida da Petrobrás é inferior a sua receita anual. Qualquer um de nós que tenha uma receita anual de R$ 100 mil, pode obter um empréstimo imobiliário na Caixa Econômica de mais de R$ 200 mil, sem nenhum problema. A dívida da Vale é 25% superior a sua receita anual o que é perfeitamente administrável.
Portanto, dizer que a Petrobrás está muito endividada é uma grande mentira, considerando a capacidade de geração de caixa da companhia e a magnitude do pré-sal. A prova disto é que não faltam linhas de financiamentos para o projeto pré-sal.
Outra grande mentira é querer atribuir aos gastos com pessoal da companhia uma importância que eles não têm. Em recente carta aos petroleiros, o atual presidente afirmou: “A régua que mede o compromisso da Petrobrás com seus empregados não é a que concede correções acima da capacidade financeira da empresa”.
Na verdade o gasto com pessoal na Petrobrás que em 2005 representava 7,24 % da receita em 2015 havia caído para 5,88%, e lembrem-se que a exploração do pré-sal está no início e ainda não gera a receita potencial.
Portanto, o simples ajuste salarial pela inflação tem um efeito irrelevante sobre a receita da empresa e dizer que está acima da sua capacidade financeira é uma mentira. O atual presidente pediu foco dos trabalhadores para o cumprimento das metas do plano de negócios. Mas, é exatamente neste plano de negócios que está registrada a destruição da empresa. O plano é todo estruturado para atingir um índice de alavancagem de 2,5, obtido pela divisão da dívida pela geração de caixa. Mas isto é um absurdo, pois este indicador só deve ser utilizado quando os projetos de investimentos estão maduros, em plena geração de receita e caixa. Este não é o caso do pré-sal.
Para forçar o alcance deste indicador que não tem nenhum sentido, o plano estabelece duas linhas principais:
a) Corte dos investimentos passando estes gastos para empresas estrangeiras. Ou seja, o pré-sal ao invés de gerar empregos no Brasil, como ocorreu até 2014, passará a gerar emprego no exterior.
b) Venda de ativos valiosos a toque de caixa e a preço de banana Um plano de negócios deste tipo só poderia ser posto em execução após muita divulgação ao povo brasileiro e muitas audiências públicas.
Denúncias aparecem por todos os lados e nenhuma providência é tomada. A Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), em estudo concluiu que a venda da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) para a empresa canadense Brookfield Infrastruture Partners (BIP) representava : “Um prejuízo maior do que o levantado pela Lava Jato”.
Em maio de 2016, portanto, antes da venda da Liquigaz, a Associação Brasileira de Revendedores de GLP (ASMIRG-BR) salientava : “Brasil poderá sofrer o maior golpe de sua história com venda da Liquigás” e também: “agora se vende uma empresa enxuta de alta lucratividade por preço insignificante” A ASMIRG-BR questionava: “O por quê e quem escolheu o Banco Itaú para conduzir esta negociação, sendo o Itaú sócio do grupo Ultra que representa a Companhia Distribuidora Ultragaz”.
Depois de demonstrar com números o crime de lesa-pátria que estava em andamento a ASMIRG-BR fez um apelo : “Há necessidade do TCU, CADE, MME , Orgãos de defesa do consumidor, dos nossos representantes no poder legislativo, dos nossos amigos da imprensa que nos lêem em cópia, de levar a público esta ação que em primeira análise, se mostra com vícios, com propósitos distantes do interesse nacional e que ao contrário gerara mais perdas para a Petrobras SA”.
De nada adiantou a lamentação, no último dia 17 de novembro, o Conselho de Administração da Petrobrás aprovou a venda da Liquigas para a Ultragaz por R$ 2,8 bilhões, em negociação conduzida pelo Banco Itaú sócio do grupo Ultra.
Por tudo que vem ocorrendo, entendemos que caberia ao Ministerio Público solicitar uma intervenção imediata na empresa, interrompendo o atual plano de negócios e apurando as responsabilidades pelo que já foi feito.
Projetos que foram interrompidos, considerados inviáveis, lançados como perdas nos balanços da empresa, agora estão voltando com capital estrangeiro. É o caso das refinarias Premium do Maranhão e do Ceará, nas quais o governo brasileiro já deu seu aval para um consórcio de empresas da Índia e do Iran. A nova empresa vai consumir petróleo iraniano e vender derivados no mercado brasileiro. Qual o sentido disto? O Brasil com grandes reservas provadas vai se tornar mercado cativo para o petróleo iraniano? Quem explica isto? Provavelmente, esta empresa no futuro será comprada pela Petrobrás pelo dobro do preço.
O pré-sal é uma grande oportunidade para o desenvolvimento do Brasil. Oportunidade que não pode ser perdida da forma como está ocorrendo. O povo brasileiro precisa acordar, unir sindicatos, associações, organizações e reagir. Antes que seja tarde e reste apenas o arrependimento.
Cláudio da Costa Oliveira
Economista aposentado da Petrobrás