Leia a íntegra a carta:
Em entrevista recente ao Broadcast, canal de notícias do Estadão voltado para o mercado financeiro, o presidente da Petrobrás vestiu a carapuça de golpista e assumiu publicamente que se incomoda com o rótulo. Defendeu a legitimidade do cargo que ocupa, a despeito de ter sido uma indicação política cujo preço foi a ruptura da democracia. Para justificar, alegou que é recebido “com deferência” em suas viagens internacionais e que ninguém lá fora trata a situação do país como golpe.
Não foi bem isso que aconteceu recentemente na China, durante a reunião do G-20, onde Temer e sua comitiva foram ignorados. O nome dele não foi sequer citado na relação dos chefes de Estado que participaram da reunião.
A legitimidade que Pedro Parente tenta dar ao golpe é a mesma que utiliza para privatizar a Petrobrás aos pedaços, alegando ser a única saída para a crise que atravessa. A estratégia é colocar-se diante da sociedade e dos trabalhadores como o salvador, aquele que vai “consertar a empresa dos problemas que esse pessoal, que hoje fica falando de golpe, criou ao indicar a minoria que promoveu a roubalheira contra a Petrobras”, como declarou na entrevista ao Estadão.
Ao contrário do que ele afirma, a empresa vinha sendo saqueada há muitos anos, sem que nada fosse feito, apesar das constantes denúncias das organizações sindicais. Há décadas, lutamos contra o sistema de gestão autoritário, herança da ditadura militar, que blinda gerências e diretorias, permitindo que inflijam normas, descumpram acordos e legislações, sem consequência alguma, como se estivessem acima do bem e do mal. Diversos trabalhadores se levantaram contra isso, mas foram punidos e perseguidos.
Tem sido assim há muito tempo. Os próprios gestores envolvidos na Lava-Jato afirmaram em suas delações que roubavam a Petrobrás desde os anos 90. Um dos esquemas de maior repercussão e que até hoje segue impune são os contratos sem licitação assinados entre 1994 e 1997 com a Marítima para construção de plataformas. Uma das encomendas foi a P-36, que afundou em março de 2001, matando 11 trabalhadores e cuja causa do acidente foi atribuída a um erro de projeto de construção. Nenhum integrante do governo FHC ou qualquer executivo da empresa foi responsabilizado.
Pedro Parente, que hoje se auto intitula salvador da Petrobrás, é remanescente desse período e carrega em sua ficha participações em prejuízos bilionários que a companhia sofreu na administração tucana. Ministro do apagão, ele determinou que a estatal fosse utilizada para financiar o programa de geração de energia térmica, um grande fiasco, que sangrou os cofres da empresa por anos a fio.
Os especialistas estimam que mais de R$ 1 bilhão foram gastos só para cobrir os contratos com as termelétricas, onde a Petrobrás foi obrigada durante anos a garantir rentabilidade mínima aos investidores privados, mesmo em caso de prejuízo. Outro escândalo dessa época foi o Gasbol. Pelo menos R$ 1 bilhão saíram do caixa da empresa para bancar o fornecimento e transporte de dezenas de milhões de metros cúbicos diários de gás da Bolívia, que jamais foram utilizados.
A troca de ativos com a Repsol/YPF foi outro rombo nas contas da Petrobrás que tem o dedo de Pedro Parente. Ele ocupava a presidência do CA, quando autorizou a empresa a entregar à multinacional US$ 3 bilhões em ativos, inclusive 30% da Refap, e receber em troca US$ 750 milhões. Ou seja, amargou US$ 2,3 bilhões de prejuízo.
É, no mínimo, desonesto ele agora querer atribuir a crise da Petrobrás aos crimes de corrupção, como se nenhuma outra petrolífera no mundo passasse pelos mesmos problemas financeiros em função da queda vertiginosa dos preços do petróleo. Seu objetivo, todos nós sabemos, é justificar o desmonte da companhia e continuar entregando o patrimônio público, como fez há pouco com Carcará, campo do Pré-Sal que foi vendido por um terço do valor, e vai fazer também com a NTS, a maior malha de gasodutos do país, que está prestes a tornar-se monopólio de investidores estrangeiros.
Roubalheira das grandes, que Pedro Parente tenta dar legitimidade. Assim como o golpe.
No ritmo acelerado em que as privatizações acontecem, não serão necessários nem cinco anos para ele salvar a companhia, como afirmou pretensiosamente ao Estadão. Do jeito que as coisas vão, em cinco anos a Petrobrás já terá virado pó.
Federação Única dos Petroleiros
Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2016