Ser negro no Brasil é ser a resistência, é estar sempre na linha de frente da luta e das injustiças sociais. Durante o mês de novembro celebramos o Dia da Consciência Negra, a data faz referência à morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo de Palmares, que lutou para preservar o modo de vida dos africanos escravizados que conseguiam fugir.
A luta e os quilombos existem e resistem até hoje, e negras e negros brasileiros precisam enfrentar o preconceito todos os dias. No mercado de trabalho não é diferente. Apesar de terem vivenciado uma melhora na condição de vida nos últimos anos, com maior inserção no ensino superior, o grupo continua a sofrer os impactos de um problema histórico do país.
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2005 e 2015, o percentual de negro e negras universitários saltou de 5,5% para 12,8%. No entanto, esse o crescimento positivo não é igual quando a análise é a ocupação de vagas no mercado formal de trabalho. Mesmo mais graduados, os negros continuam com baixa representatividade nas empresas.
Formação para todos
Pensando em empoderar jovens negros e negras, o ativista Lula Rocha colaborou para a criação do núcleo capixaba do Círculo Palmarino, uma organização nacional do Movimento Negro, que deu origem a Rede AfirmAção de Cursinhos Populares, que tem um trabalhado na preparação de jovens, trabalhadoras e trabalhadores de comunidades populares para realizarem o ENEM.
“As Ações Afirmativas, tais como as cotas raciais nas universidades e concursos públicos no âmbito federal, a lei que institui a obrigatoriedade do ensino da história de África e a contribuição do povo negro para a sociedade brasileira e a criação de órgãos e demais políticas voltadas ao combate ao racismo são algumas das conquistas importantes que tivemos nos últimos anos”, conta Lula Rocha.
Para o ativista, essas ações ainda são pequenas diante dos impactos do racismo da sociedade, mas já mostram que o caminho vem se abrindo. Ele também conta que quando surgiu o Fórum Estadual de Juventude Negra (FEJUNES) eram poucas as organizações juvenis que atuavam no combate ao racismo, e hoje já temos diversos coletivos que atuam nesta causa desenvolvendo trabalhos importantíssimos e dialogando com públicos variados. Alguns exemplos são as batalhas de MCs, saraus, slams, organizações comunitárias, cursinhos, coletivos de estudantes, mulheres negras e LGBTs, secretarias sindicais, dentre outros.
A artista híbrida Xis Makeda faz parte desses coletivos. Ela é Coordenadora e arte educadora do coletivo Produção Crioula, Coordenadora e arte educadora do Grupo Sawabona de Cultura Negra e Dramaturga do Coletivo Elas Tramam.
Xis analisa um cenário misto no que diz respeito às conquistas do povo negro nos últimos anos. “A população negra a meu ver, tem perdido e conquistado. Muitas vezes, boa parte de nossas pequenas conquistas não chegam ao conhecimento da grande maioria de nossa população pelo simples fato de não sair do papel.” Contou.
Ainda de acordo com ela, a lei nº 10639 ainda não atingiu a plena implementação. Os entraves são os velhos conhecidos, o que acaba por fazer com que continuemos esbarrando no esqueleto racista do nosso país. “A criminalização do racismo, ainda hoje, desafia a paciência da vítima que quer acessar o direito a essa denúncia e mais ainda a espera da real punição. Temos acompanhado pelas mídia vários casos de crimes raciais denunciados e provados que nunca deram em nada. Anos de luta por leis que não funcionam além do papel. O Brasil é o país de grandes mitos, e um deles é o da democracia racial.” Ponderou.
Futuro de luta está por vir
Além disso, Lula Rocha ressalta que os anos a seguir com o novo presidente poderão ser ainda mais desafiadores. “Sabemos dos riscos que teremos com a chegada à presidência de uma pessoa que nega o racismo e absurdamente chegou a afirmar que não existiu o processo de escravização de pessoas negras no Brasil. Mas não vamos deixar nos abater, nossa libertação é um caminho árduo e longo, mas que não haverá regressão”.
Sobre o futuro, após as eleições presidenciais, Xis é enfática: “Falar de estratégias para o Brasil que não se reconhece é mega difícil. Temos a dificuldade do fator da invisibilidade do nosso povo; pouco sabemos sobre a luta por direitos de grupos negros de outras Brasis. Territórios e realidades diferentes com demandas diferentes que precisam ser conhecida pelos iguais. Essa é a meu ver um bom primeiro passo para uma coesão entre a população negra e afro descendente brasileira. Precisamos nos reconhecer ainda mais e praticar o espelho para podermos cuidar uns dos outros, e formarmos uma unidade mais forte e coerente. E conhecer,de fato, os nossos direitos já conquistados e nossas demandas. Informação é um caminho. Mas o caminho é longo”, finalizou.