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Saúde e trabalho: os impactos da Covid-19 em debate no 30º CONGREPES

Com o tema, “Saúde e segurança do trabalhador em tempos de pandemia”, a segunda mesa do terceiro e último dia do 30º Congresso Estadual dos Petroleiros do Espírito Santo – CONGREPES deu continuidade nos debates realizados na manhã deste sábado (10). Todas as atividades estão sendo transmitidas pelo canal do Sindipetro-ES no YouTube.

O diretor da Secretaria de Formação Política do Sindipetro-ES, Wallace Ouverney, ficou responsável na coordenação da mesa. Junto a ele estavam Alex Pereira, diretor da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer do Sindipetro-ES; e Vivian Pizzinga, doutora em Saúde Coletiva, na área de concentração Ciências Humanas e Saúde, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

SOS Periferia

Mas, antes, o diretor convidou o Mikayl Coser, responsável pelo movimento do SOS Periferia, para apresentar o quanto as alterações nos valores dos combustíveis interferem no dia a dia da população. “Sabemos o quanto o aumento interfere, principalmente, no consumo do gás de cozinha. Por isso nosso trabalho também é de manter o diálogo direto com as populações mais carentes, para estarmos sempre atentos à realidade dessas pessoas e a entender de que forma podemos ajudar. Por isso mantemos o contato com o Sindipetro-ES, levando essas informações e sendo sempre bem recebidos, com ações de apoio e doações a essas pessoas”, disse.

Junto a ele, uma das famílias atendidas pelas ações realizadas pelo Sindipetro-ES em parceria com o SOS Periferia, tanto com doações de alimentos quanto por auxílio na venda de gás de cozinha a preço justo. “Se a vacina salva vidas, a alimentação salva outras tantas! Obrigado ao SindipetroES por cada cesta básica, por cada botija de gás doada à periferia”, pontual Coser.

Assista à Mesa “Saúde e segurança do trabalhador em tempos de pandemia”. Esta atividade vem na sequência da mesa “Energia para o futuro: o fim do petróleo ou o fim da Petrobras?”, realizada no primeiro espaço da manhã deste sábado. Os dois debates estão disponíveis no mesmo link.

Saúde do trabalhador

Ao começar o debate da segunda mesa deste sábado (10), no 30º CONGREPES, o diretor do Sindipetro-ES, Alex Pereira, nos alertou para os desafios enfrentados pela categoria durante a pandemia da Covid-19. “Os últimos números que temos é que quase 20% da força trabalhadora da Petrobras foi contaminada por Covid-19. E, mesmo sendo uma das forças trabalhadoras que mais testa, consideramos ainda muito pequeno. Sempre defendemos que deveria ser ampliado o trabalho remoto, em casa, assim como melhorar o intervalo na alteração nas escalas. Mas a empresa sempre recusou”, enfatizou o diretor.

A briga foi árdua para conseguir a compra e a distribuição de máscaras aos trabalhadores, por exemplo. “E mesmo quando o sindicato comprou e distribuiu junto à categoria, a empresa tentou impedir ao máximo. E nós tivemos dois surtos de contaminação durante esse período”, lembra Pereira.

Somente depois de ações realizadas conjuntamente com petroleiros e petroleiras das plataformas P-57 e P-58, e das unidades UTGC e UTGSul, com a realização de lockdows entre os/as trabalhadores/as, que a Petrobras passou a distribuir as máscaras adequadas. “E somente com esse empenho de todos conseguimos a PFF2 para a categoria, com distribuição da empresa. E esse movimento passou a ser exemplo ao Brasil, com outras plataformas também recebendo o material. Mas ainda é preciso ampliar para as bases terrestres”, alertou ele.

Segundo o diretor, foi somente após o uso da PFF2 por todos os trabalhadores embarcados, que as duas plataformas não vieram mais a transmissão do novo coronavírus a bordo. “Uma conquista importante! Precisamos seguir usando as máscaras, para a nossa proteção e dos familiares”, reforça Pereira.

Mais desafios

O diretor ainda lembrou da incapacidade da Petrobrás em assistir os trabalhadores que foram contaminados, durante o período de trabalho, ficando em quarenta, hospedados em hotéis. “Não conseguiram fornecer nem o básico. Coube ao Sindipetro-ES, por exemplo, distribuir termômetros e oxímetros às unidades para a catebor ter condições de averiguar sua condição de saúde”, citou.

Falou, ainda, sobre o período de escala de trabalho, em especial nas plataformas. Reforçando a posição contrária do sindicato à escala de 21. “Há uma liminar do sindicato garantir esse direito ao trabalhador, Mesmo assim nossa categoria sofre assédio e, infelizmente, muitos acham ser uma boa escala de trabalho. O que precisamos reforçar é que a Petrobras não se preocupa com o trabalhador. O que ela quer é a continuidade operacional. Para ela, quanto mais tempo o trabalhador ficar lá, é melhor. Já para nós, para nossa saúde física e mental, tudo fica pior”, disse Pereira.

E continuou: “Trabalhar mais dias, em escala, é ficar mais tempo longe da família. Se eu parar pra pensar, vejo que minha filha nem sente mais minha falta. Porque se acostumou com o fato de eu ficar longe. Quando a gente defende não fazer os 21 dias, é pelo bem do trabalhador. O dinheiro não é tudo nessa vida. A nossa saúde física e mental é muito mais importante”.

A doutora em Saúde Coletiva, Vivian Pizzinga, pontuou o quanto é assustador ter o conhecimento que a Petrobras não foi capaz de cumprir com o mínimo na prevenção dos/das trabalhadores/as. “Se a Petrobras não consegue oferecer o básico, imagina em outros lugares?”, lembrou. Porém, achou importante o diretor Alex Pereira trazer a informação que o uso das máscaras PFF2 apontou resultados positivos. “É bom saber que ao se ter as máscaras, os números de casos reduziram nesses ambientes. Essa comprovação é necessária”.

Serviços essenciais

No início de sua fala, Pizzinga trouxe algumas informações sobre a relação da Covid-19 com a segurança da saúde do trabalhador. Como ela disse, nos primeiros meses da pandemia foram publicados quatro decretos federais, conceituando quais seriam as atividades essenciais. “E esse número foi se ampliando, apesar do crescimento de casos e óbitos. E os/as petroleiros/as foram classificados/as como trabalhadores/as essenciais”, salientou.

Assim como os/as petroleiros/as, a doutora apontou que outras categorias também sofreram o impacto direto da pandemia, a exemplo de trabalhadoras/es domésticas, entregadores, sepultadores, profissionais do teleatendimento, caixas, entre outras profissões. “São inúmeras categorias que, às vezes a gente nem pensa nelas. Mas é importante lembrar de todos”, ressaltou.

Saúde do trabalhador

E ao fazer essa ponderação, ela destacou a importância de se debater sobre a saúde do trabalhador. E, ao pensar na Covid-19, avaliar se essa doença pode ser relacionada ao trabalho. “Quando falamos das doenças relacionadas ao trabalho, falamos das que você adquire com o tempo de serviço, por conta da natureza do seu ofício; e também das que são promovidas devido ao ambiente de trabalho e as condições oferecidas, a exemplo do assédio, do machismo, do sexismo, entre outros”, classificou Pizzinga.

Porém, desde setembro de 2020, há uma nota técnica dizendo que para a Covid-19 ser considerada doença de trabalho é preciso que o trabalho seja a causa da doença, somado ao agravo do trabalhador contaminado. E para comprovar isso é preciso uma perícia. Ou seja, precisa estabelecer o nexo causal pela perícia.

“Mas como será possível comprovar isso? Se a pessoa trabalha cinco ou seis dias por semana, fazendo hora extra, se expondo a uma doença que faz você sair de casa para ir trabalhar, mas consideram e defendem que essa é uma transmissão comunitária, tentando evitar a classificação da Covid-19 como doença de trabalho”, finalizou Vivian Pizzinga.

Programação

O 30º CONGREPES termina neste sábado, dia 10 de julho. Nesta tarde, os trabalhos serão retomados a partir das 14 horas, com a mesa “O sindicalismo moderno e a urgência de ressignificar o trabalho”. Confira: https://www.youtube.com/watch?v=fHRZrtgC_OE.

A quinta e última mesa do 30º CONGREPES será seguida da finalização e leitura da carta do Congresso. A partir das 16 horas, o evento partirá para a eleição da delegação que irá representar o Espírito Santo na IX PLENAFUP. O evento será encerrado às 16h30.

Confira a programação completa.

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