Por Cláudio Oliveira
A atual direção da Petrobrás publicou nesta quinta-feira (14 de maio) o resultado da companhia no 1º trimestre de 2020. Os números apresentados mostram um prejuízo de R$ 48,5 bilhões, o maior prejuízo em um 1º trimestre da história da empresa.
Recentemente foi anunciado o resultado do exercício de 2019, um lucro de R$ 40 bilhões, e o atual presidente da empresa, Roberto Castello Branco, proclamou ser o maior lucro da história da Petrobrás. Na verdade um resultado falso pois tal lucro foi obtido com venda de ativos e não pelo desempenho operacional da companhia, como registramos no artigo “O roteiro para o fim da Petrobrás já está pronto e em andamento”.
O resultado apresentado agora, no 1º trimestre de 2020, é igualmente falso e faz parte do “Roteiro para o fim da Petrobrás”. O prejuízo de R$ 48,5 bilhões foi causado pelo registro de “impairments” (redução do valor recuperável dos ativos) calculados com base em premissas absurdas, não utilizadas por qualquer grande petroleira mundial.
Que a empresa apresentaria prejuízos nós já sabíamos e tivemos a oportunidade informar aos leitores em diversas oportunidades, como no relato(vídeo) “Aepet TV: Petrobrás reestruturada para dar prejuízo”:
De fato, a Petrobrás que apresentou lucros constantes de 1991 até 2013, era uma empresa estruturada para lucrar mesmo em situações adversas. A partir de 2016 a empresa vem sendo dilapidada e hoje encontra-se totalmente desfigurada sem possibilidade de apresentar lucro com suas atividades operacionais. Mas os prejuízos esperados eram muito menores do que o registrado agora no 1º trimestre de 2020. Então, para que antecipar todo esse prejuízo?
CÁLCULO DOS IMPAIRMENTS
A Petrobrás sempre avaliou a recuperabilidade de seus ativos anualmente no último trimestre. Neste ano, no entanto, com a ocorrência de fatores que impactaram o mercado de petróleo e a economia mundial, julgaram oportuno antecipar as avaliações.
Para cálculo dos “impairments” lançados no resultado do 1º trimestre de 2020 foram utilizadas as seguintes premissas:
- Preço do Brent US$/barril, mantido em US$ 25 durante 2020, evoluindo até US$ 45 até 2024 e mantido em US$ 50 no longo prazo.
- Câmbio mantido em R$ 5,09 em 2020, evoluindo até R$ 4,28 em 2024 e mantido em R$ 3,78 no longo prazo.
A base de cálculo existente considerava um preço de Brent fixo em US$ 65 de 2020 até o longo prazo, e um câmbio evoluindo de R$ 3,85 em 2020 até R$ 3,60 no longo prazo.
A seguir as considerações da atual administração:
Verdadeiro exercício de adivinhação da conjuntura futura digno de Mãe Diná e outros.
OUTRAS EMPRESAS
A Exxon Mobil, apesar de registrar reservas mais de duas vezes superiores às da Petrobrás, também sujeitas à desvalorização do óleo, contabilizou “impairments” de apenas US$ 2,9 bilhões neste 1º trimestre.
A Shell, a meu modo de ver muito corretamente, registrou somente perdas referente ao exercício de 2020 desprezando previsões a partir desta data. Desta forma contabilizou “impairments” de apenas US$ 750 milhões neste 1º trimestre.
PROVÁVEL ESTRATÉGIA
Infelizmente o Brasil não dispõem de uma imprensa realmente livre e independente. Nossos principais canais de mídia estão cooptados por interesses contrários ao desenvolvimento da nação. Assim, resultados como o obtido pela Petrobrás em 2019, são mostrados pela mídia como positivos.
É negada à população brasileira o conhecimento sobre a verdade dos fatos. Se a Petrobrás apresentar um prejuízo ou um lucro o conhecimento do povo brasileiro vai se limitar a isto. Jamais vão saber o que existe por trás dos números finais.
Como para cálculo dos “impairments” foi utilizada a pior das hipóteses para 2020, com o Brent estimado em US$ 25 o barril e o câmbio R$/US$ em R$ 5,09 (25 x 5,09 = 127,25 – o valor do Brent em reais, utilizado para o cálculo do “impairments”) . O mais provável é que nos próximos trimestres os números melhorem, provocando estornos de “impairments” gerando lucros contábeis, E essa deve ser a estratégia da administração da Petrobrás para exibir um cenário de recuperação no futuro.
Hoje mesmo a Brent já está sendo cotado a US$ 31 o barril e o câmbio superou R$ 5,80 (31 x 5,80 = 179,80 ), um incremento de mais de 40% sobre a premissa adotada ( 179,80 : 127,25 ).
Assim, se os resultados previstos pela atual administração para 2020 apresentassem as seguintes perspectivas:
1º trimestre prejuízo de R$ 4 bilhões
2º trimestre prejuízo de R$ 6 bilhões
3º trimestre prejuízo de R$ 8 bilhões
4º Trimestre prejuízo de R$ 10 bilhões
Prejuizo total em 2020: R$ 28 bilhões
Isto mostraria para a população brasileira que a empresa estaria no caminho da destruição, com prejuízos crescentes.
Agora, com os “impairments” do 1º trimestre e os estornos que deverão ocorrer nos próximos meses o resultado previsto poderia ser o seguinte:
1º Trimestre prejuízo de R$ 48,5 bilhões (já realizado)
2º Trimestre lucro de R$ 4,5 bilhões (com estornos)
3º trimestre lucro de R$ 6 bilhões (com estornos)
4º trimestre lucro de R$ 10 bilhões (com estornos)
Prejuizo total em 2020: R$ 28 bilhões.
Isto mostraria para a população brasileira uma empresa em franca recuperação, com lucros crescentes.
Vocês podem dizer que, como eles, eu também estou querendo fazer adivinhações. Mas, vejam bem, como já verificamos o cálculo dos “impairments” pode ser manipulado de diversas formas. Chega a ser ridículo.
CONCLUSÃO
O roteiro para o fim da Petrobrás continua em andamento e firme nos trilhos. Pandemia de coronavirus ou briga na OPEP não alteram os objetivos que incluem não só a destruição da empresa e sua história, como do orgulho de sua força de trabalho que vem sendo submetida a todo tipo de humilhação.
Em sua mensagem, o atual presidente Castello Branco declarou:
“Nosso Conselho de Administração aprovou mudança no modelo de autogestão da AMS – Assistência Médica Suplementar para que através de administração profissional e focada tenhamos uma operação a custos significativamente mais baixos, mais eficiente e capaz de prestar serviços de qualidade bastante superior ao padrão atual. Estimamos que a mudança resulte em economia de R$ 6,2 bilhões nos próximos dez anos”.
Ora, qual a importância de uma economia de R$ 600 milhões por ano para uma empresa cuja receita supera os R$ 400 bilhões anuais. E o pior: tudo feito contrariando o acordo coletivo 2019/2020 e à revelia de mais de 284 mil beneficiários, que sequer foram consultados.
Na administração de recursos humanos, em qualquer empresa decente, é recomendada competência e liderança. Na Petrobrás atual estes valores foram substituídos por assédio, coação e terrorismo.
Cláudio da Costa Oliveira
Economista da Petrobrás aposentado