Sindipetro ES

Energia e Resistência: confira como foi o primeiro dia do 30º CONGREPES

A primeira noite do 30º Congresso Estadual dos Petroleiros do Espírito Santo – CONGREPES, contou com a presença de petroleiros e petroleiras de todo o Estado. O evento tem transmissão pelo YouTube do Sindipetro-ES (clique aqui) até este sábado, dia 10 de julho. E no primeiro dia já foram debatidos os desafios apontados para a categoria, tanto com a atual conjuntura nacional quanto com as políticas energéticas em debate, discutindo as transformações energéticas e reforçando caminhos para a resistência.

A abertura do 30º CONGREPES aconteceu das 19h. O Congresso tem como tema, neste ano: “O capitalismo muda e o alvo ainda é a classe trabalhadora. Um novo sindicato para um mundo em crise”. A fala de abertura foi do coordenador geral do Sindipetro-ES, Valnísio Hoffmann, explicando as atividades que serão desenvolvidas durante o congresso e lembrando à categoria que o acordo coletivo só terá as cláusulas discutidas em 2022, já que em 2020 foi aprovada a reposição, para este ano, pelo INPC.

Antes de começar os debates, foi feito um minuto de silêncio pelas vítimas de Covid-19, no Brasil, com mais de 530 mil mortes. E, em seguida, o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, fez uma breve fala sobre a conjuntura atual do país.

Conjuntura

“Nós temos mudanças na geopolítica mundial do petróleo, e essas mudanças fazem com que grandes países foquem seus interesses para o Atlântico Sul, principalmente no Brasil. Essas mudanças profundas e rápidas, infelizmente, têm ocorrido no Brasil, e principalmente a partir da Lava Jato, que se inicia em 2014 e que fere a imagem da Petrobras, criando uma instabilidade política e econômica do nosso país e ajudando na conflagração do golpe de estado, em 2016, e na eleição desse que aí está, hoje, na presidência da republica, ajudando a matar pessoas e a vender diversas das nossas empresas estatais e de nossas riquezas”, enfatizou Bacelar.

O coordenador da FUP avalia, porém, que há boas perspectivas, em especial a partir das eleições de 2022. Para ele, a ação da categoria a agira, desde a greve de 2020, a se aproximar da população brasileira, em especial com as ações solidárias, de apoio à população brasileira durante toda a pandemia, promovendo a venda de botijão de gás e combustível a preço justo, assim como campanhas de doação de alimentos e de roupas às famílias mais vulneráveis, possibilitou dialogar com essa população mais vulnerável e a apresentar a situação atual do nosso país.

Bacelar considerou, ainda, durante sua fala, a importância das denúncias apresentadas pela CPI da Covid-19. E, também, a volta da população às ruas. “Os atos nas ruas estão cada vez maiores. E com certeza, no dia 24 de julho, teremos atos que ajudam a CPI, o diálogo com a sociedade nas ações solidárias, e que contribuem a derrubar esse governo, seja na força das ruas, seja na força das urnas”, pontuou o coordenador da FUP. Salientando a importância da união dos movimentos de esquerda para construir um programa de governo que venha a promover a recuperação e o crescimento do país.

Mesa 01

Após a apresentação do hino nacional, e dos informes para o Congresso, posteriores à leitura e aprovação do regimento interno do Congresso, Rodrigo Ferri, diretor da Secretaria de Comunicação do Sindipetro-ES, deu início para a primeira mesa redonda do 30º CONGREPES: “Energia para resistir: a mudança é agora!”. Antes, ele fez a leitura da carta da Frente Petroleira LGBT, em apoio às causas e demandas do grupo.

Na mesa, participaram Clarice Campelo de Ferraz, professora, doutora em Ciências Econômicas e Sociais pela Universidade de Genebra e integrante do Instituto Ilumina; Thiago Ávila, socioambientalista e youtuber do canal Bem Vivendo; e a petroleira Amanda Lima Santos, diretora Secretaria de Administração do Sindipetro-ES.

Assista à Mesa “Energia para resistir: a mudança é agora!” >> https://www.youtube.com/watch?v=Th1qpKtlWAw&t=4330s

Eletrobras

Durante sua fala, Clarice Ferraz falou sobre os ataques que a Petrobras vem sofrendo, nos últimos anos, e quanto isso vai impactar no setor de energético do país; e, ainda, sobre a crise ambiental sistêmica e global, destacando de mais de 70% desse setor é responsável pela emissão de carbono, no planeta, o que reforça o seu processo de mudança.

“Estamos nas portas de uma nova revolução industrial. E quando falamos que o mundo da energia se eletrifica, destacando esse ataque à Eletrobras às vésperas de entrar na era do pós-carbono, de forma forte e coordenada, mostra o quanto o capitalismo está se transformando”, pontua Ferraz.

Em sequência, ela reforçou o quanto o processo de privatização das forças energéticas virá a prejudicar, ainda mais, os mais pobres. “É a barreira da financeirização que avança para o setor elétrico. Um setor que é coordenado, não está pulverizado, e que o mercado livre tem um pedaço, e eles querem tudo. E quando isso ocorre, a gente implode todos os mecanismos de coordenação, a gente começa a fazer setorização de vários produtos e a tarifa (de energia) explode. As consequências para o pequeno, a gente vê isso em vários lugares do mundo, são maiores. Já temos 20 milhões passando fome, 60% em insegurança alimentar, vivemos uma crise energética e que pode se transformar numa crise hídrica. É muito severo, isso”, alertou.

Para a professora, a Eletrobras é o coração do setor energético brasileiro e, também, o coração da reindustrialização na era pós-carbono. Destacando, ainda, ser a empresa que administra os reservatórios que são regularizadores e que preservam a água, em nosso país. “Abrir mão de reservatório é abrir mão do controle das águas. O próximo passo é a privatização dos rios e de tudo isso. É muito grave”, enfatizou.

Segundo ela, o processo de privatização da Eletrobras foi horrível. Por ser especialista, ela foi chamada a participar das audiências públicas sobre o projeto de privatização da Eletrobras. E percebeu que poucos parlamentares participaram, com nem o relator estando presentes nesses espaços. “Foi chocante acompanhar tudo de perto. Tudo foi feito sem pensar no impacto tarifário ou ambiental. Em uma transformação desse tamanho, não se olhou um momento para o cidadão brasileiro”, relatou Ferraz.

O processo avançou, como disse Clarice durante sua fala, mas fica em suspenso porque o deputado Lira mudou uma palavra depois do projeto já ter sido aprovado. E isso é proibido, por ser completamente ilegal. E, por isso, ela ainda não dá por perdido. “Acho que devemos seguir pressionando e impedindo que esse plano avance, para que não aconteça com a Eletrobras o que vem acontecendo com a Petrobras”, afirmou.

União de lutas

Em seguida, o ambientalista Thiago Ávila falou sobre a importância dos movimentos se unirem na luta pela preservação ambiental. Com uma análise rápida sobre o funcionamento do sistema capitalista, apontando que todos sofremos as consequências, levou sua fala para buscar caminhos de como acabar com esse modelo, antes que ele acabe com a gente.

“Quando pensamos em mudança, temos que lembrar das revoluções. Todas elas nos trazem aprendizados importantes. É como se todas essas pessoas que deram as suas vidas para construir uma nova sociedade livre da exploração, livre de opressões, buscando um modelo que não seja destrutivo da natureza, tivessem entregando uma bandeira para a gente lutar, mesmo em condições muito adversas”, ponderou Avila.

Para o ambientalista, é fundamental lembrar a todos que somos nós que operamos as máquinas, que dirigimos os veículos, que preparamos a comida, que construímos os prédios, e que colocamos toda essa sociedade para funcionar. “E no momento que a gente se dá conta disso, temos condições de promover mudança”, enfatiza.

Segundo ele, o que muitos movimentos perceberam, mesmo durante uma pandemia e principalmente em alguns países vizinhos ao Brasil, é de “os governos são mais perigosos que o vírus”, destacou Avila. E, para o ambientalista, mesmo sabendo dos riscos da pandemia, não podemos deixar de ir às ruas. “E ir às ruas entendendo o risco da violência estatal e de vários outros processos que envolvem as lutas que vamos fazer. Estamos enfrentando uma classe dirigente que sempre vai colocar o lucro acima de nossas vidas, e que não tem nenhum receio de manter sua hegemonia”, frisou.

Como disse, em sua fala, quem hoje mantém o poder consegue manter com o uso dos seus instrumentos ideológicos, às vezes com o consentimento da classe trabalhadora de acreditar que esse é o único caminho possível, mas que quando essa estratégia falha eles mantém (a hegemonia) a partir do uso da força, da coerção. “O risco existe, e promover mudança demanda compreender isso: a classe dominante pode até entregar os anéis, para não perder os dedos, mas nunca vai abrir mão de estar no leme dessa nau que segue rumo ao abismo”.

Para ele, é absolutamente necessário, para uma transição energética, que as empresas energéticas sejam de controle 100% estatal, e com controle dos/as trabalhadores/as, um controle social genuíno, popular. “Assim, a gente consegue que não haja, por exemplo, um desinvestimento da PBio ou que o programa de biocombustível da Petrobras não privilegie o agronegócio”, pontuou Avila.

Só que, para conseguir promover a mudança, é fundamental trazer, cada vez mais para as pessoas, as características sistêmicas das nossas lutas. Porque tudo está cada vez mais conectado com o pensamento capitalista. “Só acaba com a exploração, se a gente acabar com todas as opressões. Ou essa tal revolução só vai ser para homem branco, hetéro e cis? E só consegue acabar verdadeiramente com as opressões se a gente acaba com a exploração desse sistema (capitalista). E só existe futuro numa sociedade livre das explorações e opressões se a gente acaba com a destruição do planeta, detém o desastre ambiental planetário e regenera o que já foi destruído”, alertou o ambientalista.

E ao fazer a conexão desses sistemas de distruição, é entender que é fundamental conectar, também, a nossa resistência. Afinal, todas as lutas do trabalhador, estão conectadas com as lutas do campo e das florestas, por moradia, por uma cidade menos excludente e elitista. Já que a classe trabalhadora não vive somente no seu local de trabalho, ela também tem território, gênero, sexualidade e se relaciona com a natureza. “Está tudo tão conectado, que a gente também consegue conectar as resistências”, frisou Thiago Ávila.

Luta feminista

Após esse reforço e a importância das conexões entre lutas, a diretora do Sindipetro-ES, Amanda Lima, trouxe uma perspectiva da conexão dessas causas com a luta feminista. Mas, antes, ela reforçou a importância do debate, principalmente no momento atual: “Eu fico muito feliz da gente ver um sindicato de Petróleo debatendo aqui pautas ambientais, de energia, visando o bem estar da sociedade. Porque é isso que a gente preza: a gente não quer produzir petróleo a qualquer custo, a gente quer produzir petróleo para a autonomia e bem estar da sociedade brasileira”, enfatizou.

Para a luta feminista, Amanda alertou sobre os impactos da pandemia às mulheres. “O que aconteceu foi a regressão de décadas das mulheres no mercado de trabalho. E a pandemia ainda trouxe o aumento do feminicídio, com as  mulheres vivendo mais tempo com os agressores. Ao trazer a luta feminista, juntamente com todas as demais que temos na sociedade, o que vejo hoje em dia é que a gente tem que se irritar sobre determinas posturas e se tornar atuantes”, reforçou.

A diretora do Sindipetro-ES disse, ainda, durante sua participação, sobre o redirecionamento da Petrobras, apresentando uma transição em suas matrizes, na busca por segurança energética. Porém, pontuou o quanto, nos últimos anos, houve uma virada de mesa, com a empresa vendendo tudo que pode, lembrando dos recentes ataques promovidos pela empresa, tanto à economia nacional quanto aos/às trabalhadores/as.

“Infelizmente, o que vemos são esses ataques, e pra mim sempre foi muito claro que a única solução é coletiva. Não adianta eu achar que fazendo sozinha vou conseguir vencer algum poder dominante. A luta só é possível coletivamente, e somente assim começamos a ter esperança”, disse Amanda.

Para ela, o que nos falta como meta de sindicato e movimento popular é conseguir trazer as pessoas para essa consciência, para a pauta coletiva, porque assim conseguiremos começar a fazer a diferença. “Para eu, que sou petroleira, num país que tem uma produção de GLP do tamanho da nossa, ter brasileiro cozinhando com lenha ou álcool é um absurdo. E para conseguir mudar essa realidade, a gente precisa trazer mais gente e se manter perto da base”, ponderou.

Sorteio

Ao fim de todas as falas, foram realizados dois sorteios, a partir da lista de participação, com o link sendo disponibilizado durante a realização do debate no chat do YouTube. Os vencedores foram: Roni Dias Guimarães de Jesus, de um kit de beleza e cuidados, e Francisco Fernando Moreto, de uma caixa de som. O evento foi encerrado depois das 21h, com mais de 200 visualizações e participação, média, acima de 50 pessoas assistindo.

Programação

O 30º CONGREPES vai até este sábado, dia 10 de julho. Para esta sexta, nossa segunda mesa será sobre “Fake news, redes sociais, homofobia e racismo: o caldeirão do ódio”, entre 19h30 e 20h30, com mediação da diretora do Sindipetro-ES Bruna Moschen, e a participação das convidadas Camila Valadão e Célia Tavares, e do convidado Tiago Franco. Confira a programação completa. Clique aqui!

Leave a comment

Leave a comment

0.0/5