O Brasil superou, nesta quinta-feira (1º), a marca de 100 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 aplicadas.
Os 100 milhões se dividem em 74.539.876 milhões de primeira dose e 25.944.570 de segunda dose. Além disso, entram na conta 636.015 doses únicas.
Proporcionalmente, porém, apenas 16,52% da população com mais de 18 anos (pouco mais de 26 milhões de pessoas) está completamente imunizada (com duas doses ou com vacina de dose única), segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, formado por Folha, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1 para reunir e divulgar os números relativos à pandemia do coronavírus. As informações são coletadas diariamente com as Secretarias de Saúde estaduais.
Até recentemente, a maior fatia no bolo da vacina era da Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. Trunfo político do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ela foi a primeira vacina contra a Covid-19 a ser aplicada no país, em janeiro, e sustentou por um bom tempo a campanha de imunização nacional.
Em seguida, o imunizante da AstraZeneca/Universidade de Oxford, produzida no Brasil pela Fiocruz, começou a ser aplicada, e hoje já responde por fatia maior do que a da Coronavac. As duas vacinas representam, respectivamente, 34% e 57% das primeiras doses aplicadas no país.
Coronavac e a vacina da AstraZeneca foram os primeiros imunizantes a receberem aprovação emergencial pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para aplicação no país, em janeiro. Em 23 de fevereiro, veio a aprovação —já definitiva— da vacina da Pfizer. Por fim, em 31 de março, a Anvisa concedeu a aprovação emergencial da vacina da Janssen (braço farmacêutico da Johnson & Johnson), de dose única.
Com aprovações e contratos posteriores, essas duas últimas representam uma fatia consideravelmente menor de participação no programa brasileiro: 9% são vacina da Pfizer e 0,01% é da Janssen, que só chegou ao país em 22 de junho.
O número absoluto alto de vacinas aplicadas, porém, esconde desafios e atrasos. O governo Jair Bolsonaro (sem partido) recusou diversas ofertas de vacinas no ano passado, impedindo que a imunização começasse antes.
Uma série de emails entregue pela Pfizer à CPI da Covid em caráter sigiloso mostrou a insistência da farmacêutica para negociar vacinas com o governo e a ausência de respostas conclusivas do Ministério da Saúde à proposta apresentada pela empresa no meio do ano passado,
Segundo os documentos da CPI da Covid obtidos pela Folha, a primeira oferta da empresa foi formalizada ao Brasil em 14 de agosto, com opções de 30 milhões e 70 milhões de doses, e tinha validade até o dia 29 daquele mês. O contrato com a Pfizer só foi assinado em março de 2021.
Sobre a Pfizer, disse a frase já antológica: “Se tomar e virar um jacaré é problema seu. Se virar um super-homem, se nascer barba em mulher ou homem falar fino, ela [Pfizer] não tem nada com isso”, afirmou em dezembro.
Além disso, desprezou, ironizou e criticou a Coronavac. Bolsonaro chegou a comemorar o fato de o estudo da vacina ser interrompido para verificação de um óbito —um suicídio— que havia ocorrido em um dos participantes do estudo, e em outubro de 2020 desautorizou o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que havia anunciado acordo com o estado de São Paulo para a compra de 46 milhões de doses da Coronavac. E insistiu na oferta do chamado tratamento precoce, sem eficácia comprovada.
Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), afirma que a vacinação já deveria estar mais avançado no país, considerando a capacidade de aplicações do PNI (Programa Nacional de Imunizações) e o tempo decorrido desde a primeira vacina aplicada no Brasil, no fim de janeiro. “A gente não conseguiu fazer o dever de casa. Tivemos tempo para isso, mas não tivemos vacina para isso.”
Um dos desafios na campanha de vacinação é a aplicação da segunda dose. Segundo o UOL, boletim epidemiológico especial do Ministério da Saúde apontou que pelo menos 3,8 milhões de brasileiros que tomaram a primeira dose da vacina contra a Covid-19 não foram receber a segunda e estão com o esquema vacinal atrasado.
Ballalai critica a desorganização do planejamento do processo de vacinação. Em maio e junho, a vacinação foi interrompida em diversas capitais. No fim do mês passado, logo depois de Doria anunciar o adiantamento do calendário vacinal, a capital do estado precisou interromper a campanha por falta de doses.
Outros obstáculos são as variantes de preocupação — mesmo países com altas taxas de vacinação, como é o caso de Israel, tiveram que retomar restrições (como o uso de máscaras em locais fechados) ao ver o nível de contágios crescer devido à variante Delta, mais contagiosa, inicialmente identificada na Índia e se espalhando por diversos países.
O país ainda mantém uma alta taxa diária de mortes e novos casos por Covid-19, junto com baixo isolamento social. Segundo o consórcio, nesta quinta-feira foram registrados 1.943 óbitos pela doença e 63.035 novos casos da doença. Ao todo, são 520.189 mortes e a 18.622.199 pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 desde o início da pandemia.
A média móvel de mortes agora se encontra em 1.558 óbitos por dia —é o 12º dia consecutivo de queda no dado.
Recentemente, a vacinação no Brasil apresentou uma aceleração. a uma média móvel de doses aplicadas por dia na casa de 1 milhão. A maior velocidade coincide com a maior oferta de vacinas —algo constantemente cobrado do governo Bolsonaro— e a diminuição nos atrasos de entregas, principalmente da Fiocruz, que sofreu, assim como o Butantan, problemas na importação do IFA (ingrediente farmacêutico ativo).
Fonte: Folha de São Paulo