É chegada a hora de tirar nossa nação das trevas da injustiça racial. – Zumbi dos Palmares
Em 20 de novembro de 1695, o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, foi assassinado pelos bandeirantes como forma de interromper o movimento contrário ao sistema escravista vigente no Brasil colonial, que ganhava cada vez mais força. Porém, a luta pela valorização e dignidade da população negra não cessou. As sementes da coragem e da resistência haviam sido semeadas por Zumbi dos Palmares. O Dia da Consciência Negra, comemorado hoje (20), é fruto da coragem deste herói nacional. Sua luta por uma sociedade sem algemas e sem a opressão tanto para o negro quanto para qualquer pessoa ainda inspira pessoas e movimentos sociais no enfrentamento ao preconceito.
E o Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES) reafirma sua posição como entidade que historicamente sempre combateu toda e qualquer forma de opressão contra a classe trabalhadora, incluindo o racismo. O diretor de Cultura, Esporte e Lazer do Sindipetro-ES, Alex Rodrigo Pereira, cita o importante papel que o sindicato tem em defesa de uma sociedade consciente: “Temos voz ativa, temos nossas mídias que têm o papel de alcançar todos os trabalhadores com nossas ideias e nossas convicções contrárias a toda e qualquer forma de opressão. Temos uma responsabilidade muito grande como formadores de opinião para não deixarmos que essas práticas deploráveis que a extrema direita vem usando para maltratar e diminuir as pessoas sejam difundidas”, afirma Alex.
Alex conta que desde que entrou no Sistema Petrobrás, no ano 2005, luta pelos direitos da categoria. Essa sede por justiça social tem como fonte sua origem de vida e também por ser negro: “Por eu ter vindo de uma família muito humilde e ser de periferia e ser negro , sofri muito preconceito. E não posso deixar que continuemos a sofrer nenhum tipo de preconceito”, afirma Alex, que ocupa o cargo de diretor desde maio deste ano.
O diretor de Assuntos Jurídicos do Sindipetro-ES, Ozilio Cloves Santos, ressalta o papel do sindicato para valorização da pessoa negra. “O Sindipetro-ES se posiciona como uma entidade sindical que promove a inclusão social do negro, o que poder ser notado pela composição de sua diretoria com várias pessoas negras e pelo engajamento da instituição em eventos e ações para combater tanto o racismo como as diversas formas de violência contra grupos oprimidos e marginalizados na nossa sociedade”, frisa Ozilio
A diretora da Secretaria de Aposentados e Pensionistas do Sindipetro-ES, Telma Matos, comenta que no sindicato, todos e todas são tratados de forma igual, sem distinção de cor ou sexo: “Nunca vi nenhuma diferença no tratamento entre outros colegas, nenhum tipo de discriminação, é tudo muito amigável”, comenta Telma.
Essa oportunidade que o sindicato oferece para conhecer as mazelas da sociedade como lutar pelos mais oprimidos é semelhante a uma escola como compara o diretor de Aposentados e Pensionistas do Sindipetro-ES, Sebastião Guilhermino dos Santos: “Aqui entendemos como a sociedade se organiza”. Em relação a discriminação racial, ele ainda ressalta que precisamos nos ver como iguais: “O racismo não é um tipo de preconceito. Mas uma violência!”, pondera Sebastião
Consciência Negra
Em um país como o Brasil onde 56% da população se declara como negra, mas 75% das vítimas assassinadas são negras, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE e do Atlas da Violência, o debate sobre o racismo estrutural e a luta contra a discriminação racial são essenciais.
Consciência Negra não é apenas a junção de duas palavras para impactar. O movimento negro brasileiro define essa Consciência como a percepção da pessoa negra em relação às suas origens, as raízes culturais e históricas dos seus antepassados. É a valorização da cultura negra e o reconhecimento do quanto essa sociedade ainda é racista e o quanto é grande a nossa dívida com o povo negro, vítima da brutalidade do capitalismo e da desumanidade dos homens. Consciência Negra se refere ao movimento que combatia o sistema segregacionista do apartheid na África do Sul, durante a década de 70.
Seu significado é grande demais para se resumir apenas a um dia do ano: “A consciência negra é de extrema importância para que possamos saber quem somos e onde estamos, e o que queremos para nós, negros oprimidos, nesse sistema capitalista,” resume Alex.
O diretor Sebastião também reforça a importância da Consciência Negra por dar voz aos negros e a luta contra a discriminação racial. “É muito importante refletirmos a posição do negro na sociedade, visto que até hoje sofremos a violência do racismo, além de termos nossa imagem ofuscada,” ressalta Sebastião.
Posição semelhante tem o diretor de Finanças e setor Terceirizado do Sindipetro-ES, Reinaldo Alves de Oliveira: “A data é muito importante para mostrar o absurdo que foi o passado do Brasil e que é preciso de mais políticas públicas para corrigir essa desigualdade”, frisa Reinaldo
“O primeiro passo para um indivíduo se emancipar de sua condição de explorado por uma sociedade extremamente desigual como a nossa é justamente o reconhecimento de sua condição de explorado e pertencente a um grupo social historicamente injustiçado ao longo da nossa história, comenta Ozilio.
Para ele, a importância da Consciência Negra reside justamente na função de criar o fenômeno do despertar e da identificação do negro como parte de uma sociedade que lhe nega direitos universais básicos garantidos pela Constituição Federal de 1988: “Somente esse despertar acompanhado por ações de afirmação efetivas, como políticas de cotas, podem nos levar a um futuro que teima em tardar no qual a cor da pele de um indivíduo não seja fator determinante de seu sucesso pessoal ou mesmo maior ou menor risco de ser vítima da violência urbana”, conclui.
A diretora Telma finaliza lembrando que entre negros/as e brancos/as ainda existe muito racismo: “ Somos todos humanos. Estamos em pé de igualdade!”
“As rosas da resistência nascem no asfalto. A gente recebe rosas, mas vamos estar com o punho cerrado falando de nossa existência contra os mandos e desmandos que afetam nossas vidas”. Essa frase foi dita pela vereadora e ativista pelos direitos humanos, Marielle Franco, assassinada em 2018 no Rio de Janeiro, em que as investigações apontam mando de milicianos e forças políticas ligadas a eles.
Mulher negra, da periferia do Rio e bissexual, Marielle foi e ainda é a essência da resistência contra a opressão e o sistema desigual, que tem suas origens no Brasil colonial. Assim como Zumbi dos Palmares, o assassinato de Marielle gerou frutos e mobilizou milhares de mulheres e homens negros em busca de um país mais justo, igual e democrático com oportunidades para todos/as.