Barbosa Lima Sobrinho no seu livro “Japão: o capital se faz em casa” (1973, Paz e Terra), feito com base em artigos que escreveu no Jornal do Brasil entre 1964 e 1965, contradiz a USIS, agência oficial de relações públicas internacionais dos Estados Unidos, que afirmava que o desenvolvimento americano foi realizado com substancial apoio de capitais estrangeiros.
Isto não é verdade, como ficou depois demonstrado, nem para o desenvolvimento americano, europeu e muito menos para o japonês.
Barbosa Sobrinho destaca “ O desenvolvimento econômico, sendo acumulação de capital, só se realizará com poupanças e capitais nacionais. Não há lei que possa desviar o capital estrangeiro de seu roteiro natural, orientado para o rumo que mais convier aos seus donos, aos homens que na verdade o comandam. Ao passo que o capital autóctone terá a sua tarefa e o seu destino incorporados ao próprio processo de desenvolvimento nacional”
Os governos da ditadura militar não acreditaram nos ensinamentos de Barbosa Sobrinho e , enquanto os recursos estrangeiros entravam financiando o crescimento, nós tivemos o chamado “milagre econômico” . Quando iniciou-se o processo de amortização da dívida, sobre a qual incidiam juros de mais de 20% a.a., nós tivemos o que poderia ser chamado de “desespero econômico”, com a sequência de pedidos de “waver” ao FMI.
No Japão, com o início da restauração Meiji (1868) , houve um fantástico processo de desenvolvimento nacional. Segundo Barbosa Sobrinho “O desenvolvimento econômico do Japão é um desenvolvimento comandado e dirigido pelo Estado, obediente às diretrizes que ele traçava e que caracterizam em seu conjunto, o período Meiji”.
A interferência do Estado na economia japonesa foi tão forte a ponto de Barbosa Sobrinho a considerar um caso de desenvolvimento planejado anterior à revolução russa. Ou seja, os japoneses já haviam criado o comunismo antes de Marx, Engels e Lenin.
Um país sem recursos naturais o Japão só contava com a sua etnia (ou raça) para buscar um desenvolvimento sustentado.
Os reflexos da restauração Meiji até hoje estão presentes na economia japonesa.
Reconhecida e considerada mundialmente como uma economia capitalista, o Japão não conta com a participação de uma figura fundamental : o capitalista.
Os donos de qualquer grande corporação japonesa são as outras grandes corporações japonesas. Assim se nós formos procurar saber quais são os principais acionistas da Mitsubishi, vamos verificar que são o banco de Tokyo, a Marubeni, a Kawasaki Heavy etc,etc. Se formos verificar quais os principais acionistas do banco de Tokyo, vamos verificar que são a Mitsubishi, a Marubeni a Kawasaki Heavy etc, etc.
Portanto a economia funciona como uma corrente, onde cada elo defende se algum deles se enfraquece.
As corporações japonesas tem forte influência na vida de seus funcionários, interferindo em muitas de suas decisões, sendo tudo aceito com muita naturalidade, uma vez que é para o bem comum.
Comparar o Japão com o Brasil não é tarefa fácil. As diferenças são enormes.
O Japão é um país pequeno sem recursos naturais mas com uma forte etnia, que sustenta o seu desenvolvimento.
O Brasil é uma país enorme farto de recursos naturais mas com uma etnia fraca e confusa, que não consegue se encontrar, influenciada que é por forças externas.
O professor Luiz Carlos Bresser Pereira, no estudo “Os três cilcos da sociedade e do Estado” (2012 – FGV) explica “ Cada indivíduo será nacionalista ou dependente, dependendo de como entende o papel de seu governo e de seu estado. Será nacionalista se acreditar que o governo deve defender os interesses do trabalho, do conhecimento e do capital nacionais, e se entender que, para isso, deve ouvir seus concidadãos ao invés de aceitar sem críticas as políticas e reformas propostas pelos países ricos, supostamente mais competentes”.
Bresser Pereira arremata “ As elites dos países latino americanos tem maior dificuldade em se identificar com sua nação do que as elites japonesas e, mais amplamente, do que as asiáticas, porque uma parte de seus membros se veem como “europeus” e rejeitam a existência de interesses divergentes entre seu país e o países ricos. Esta elite “europeia” com frequência considera inferior o seu povo pobre e mestiço – e se associa às elites externas, ao invés de associar-se ao seu próprio povo. Não é surpreendente, portanto, que o problema da dependência seja mais grave na América Latina do que na Ásia. Mas daí não se deve concluir que as elites latino-americanas e brasileiras sejam dependentes. Dada a intrínseca ambiguidade dessas elites, uma interpretação mais adequada do Brasil é, talvez, a de ser uma sociedade nacional-dependente”
O fato é que o Brasil frequentemente perde a oportunidade de aproveitar suas vantagens competitivas, levado por políticas antinacionalistas.
O pré-sal brasileiro é um bom exemplo. Foi descoberto em 2007, graças ao esforço dos funcionários e das tecnologias desenvolvidas pela Petrobrás bem como à coragem de um governo que apostou no seu sucesso.
A grande mídia brasileira desde o princípio buscou desqualificar a importância do fato, sempre tentando tapar o sol com peneira, e notícias foram amplamente divulgadas na sequência a seguir :
1) O pré-sal só existe na cabeça do governo (Sardemberg 2008)
2) O pré-sal existe mas a Petrobrás não tem tecnologia para extrair petróleo nestas profundidades (Mirian Leitão 2009)
3) A Petrobrás consegue extrair o petróleo mas o custo torna o negócio economicamente inviável (Mirian Leitão 2011)
4) A Petrobrás está quebrada e não tem recursos para explorar o pré-sal (Mirian Leitão e Sardenberg 2016)
Vide artigo do Portal Viomundo
O que motiva a grande mídia a adotar uma postura que podemos considerar de lesa-pátria, ainda não está bem explicado. Alguns jornalistas não se preocupam pela exposição neste trabalho nefasto, mesmo correndo risco de cair no ridículo como comprovamos no artigo do Brasil 247
Apoiados por esta mídia calhorda e por uma elite colonizadora, o atual governo brasileiro nomeou para a administração da maior empresa nacional, pessoas cujo objetivo é destruir a Petrobrás e eliminar a possibilidade do Brasil alcançar um novo patamar de desenvolvimento econômico.
A Petrobrás está sendo privatizada na surdina, aos retalhos, sem o conhecimento e aprovação da população brasileira.
O pré-sal está sendo vendido a preço de banana para as petroleiras internacionais.
A empresa não faz perfuração de poços exploratórios para delimitação de reservas, evitando registrar contabilmente as riquezas do pré-sal que são enormes, conforme nesta denúncia do AEPET.
É claro o objetivo de evitar a valorização do patrimônio da companhia para permitir sua venda, a preço vil, sem contestação pública.
Além disto, uma empresa como a Petrobrás, com dívida bruta em torno de US$ 100 bilhões, a maioria de origem externa, sofre o controle dos donos destes capitais que trabalham com força para nomear administradores que atendam seus interesses.
Quando a empresa lança uma política de redução de alavancagem arbitrária, forçando uma redução da dívida extemporânea e desnecessária, o faz para atender os donos destes capitais que certamente já tem onde aplica-los com ganhos maiores. Lembrando o que disse Barbosa Sobrinho “Não há lei que possa desviar o capital estrangeiro de seu roteiro natural, orientado para o rumo que mais convier as seus donos, aos homens que na verdade o comandam”.
A não ser que haja uma reação muito forte e imediata da sociedade organizada, o Brasil brasileiro, verdadeiro, nacionalista, mais uma vez vai perder para os vendilhões da pátria.
Cláudio da Costa Oliveira é economista e petroleiro aposentado da Petrobrás